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2 Perspectivas

Ao longo desta Tese, foram apontados vários caminhos promissores que podem ser trilhados no sentido de alcançarmos uma maior compreensão acerca dos processos físicos envolvidos na formação e na evolução de barras e de galáxias.

Com os resultados da análise estrutural realizada como o código BUDDA, é possível verificar o locus no Plano Fundamental ocupado pelas galáxias elípticas e pelos bojos das galáxias lenticulares e espirais em nossas amostras do LNA e de imageamento. Para uma fração destas, já temos também os dados cinemáticos necessários, como vimos, sendo que para o restante é possível buscar estes dados na literatura. A importância de uma tal análise foi brevemente discutida e, essencialmente, consiste em buscar semelhanças e/ou diferenças entre elípticas e bojos, que possam melhor esclarecer a natureza destes objetos. Ainda com os resultados do BUDDA é possível avaliar a massa dos discos internos encontrados em elípticas, o que pode trazer vínculos observacionais para os cenários que buscam explicar a sua existência; também poderemos estudar diretamente as propriedades estruturais das barras internas reveladas pelas imagens residuais, buscando pistas para os processos que dão origem a estas sub-estruturas. Além disto, é possível também incluir refinamentos no código, como uma componente que represente a barra em galáxias barradas, ou discos com perfil de Freeman do tipo II, se isto for justificável do ponto de vista científico.

Com relação ao algoritmo desenvolvido para a determinação de LOSVD's, este deverá ser aplicado nos espectros de uma amostra de 15 galáxias (a maior parte de tipo morfológico recente) vistas de perfil, já obtidos no mesmo telescópio com o qual obtivemos os dados espectroscópicos aqui analisados. Com esta avaliação, pretendemos verificar a existência de componentes cinematicamente distintas na região central destas galáxias, bem como determinar a rotação destas componentes. Utilizaremos o NEMO para estudar o produto final em fusões de galáxias, numa tentativa de avaliar até que ponto as fusões podem explicar a existência de componentes cinematicamente distintas, e que implicações isto poderá ter no cenário hierárquico para a formação de galáxias.

Também faz parte de nossas perspectivas expandir a base de dados incluindo não somente novos objetos, principalmente lenticulares barradas, onde acreditamos devem residir boa parte das respostas que buscamos, mas também obtendo dados de imageamento para aquelas galáxias que fazem parte somente da nossa amostra de espectroscopia, e vice-versa. Um programa observacional em colaboração com a pesquisadora Lia Athanassoula, do Laboratório de Astrofísica de Marseille na França, já está em andamento no Observatório Gemini. O objetivo maior deste programa observacional, e dos outros ainda por vir, é buscar compreender melhor a natureza e o papel evolutivo das barras em galáxias, principalmente nas de tipo morfológico recente. Não é necessário apenas aumentar a significância estatística dos resultados que aqui obtivemos, mas, por outro lado, também elevar os dados qualitativamente. Por exemplo, aumentar a região das galáxias coberta com dados espectroscópicos; determinar o valor da dispersão de velocidades na direção vertical das barras em regiões mais periféricas pode trazer novas pistas, principalmente acerca do mecanismo responsável pela evolução vertical da barra. Por outro lado, também é interessante obter espectros com razão sinal/ruído ainda mais elevada, de forma a podermos avaliar toda a informação contida nas LOSVD's, incluindo desvios simétricos ($h_4$) e assimétricos ($h_3$). Nesta busca, a utilização de telescópios pelo menos da classe dos 4 metros, com campos amplos, será uma condição necessária.

Neste sentido, será interessante explorar numerica e teoricamente um cenário para a formação de barras que inclua não apenas a instabilidade dinâmica global dos discos, mas também halos com distribuição excêntrica de matéria. É preciso entender a dinâmica estelar em sistemas imersos em halos excêntricos e triaxiais. Por outro lado, considerando os resultados que apresentamos, será de alta relevância desenvolver diagnósticos observacionais que nos permitam identificar qual é o valor apropriado para o parâmetro de suavização que deve ser aplicado em simulações $N$-corpos, ou seja, qual é o grau de granulosidade de sistemas estelares como galáxias reais.

Por outro lado, a relativamente nova tecnologia que permite obter dados espectroscópicos em duas dimensões, mesmo que ainda restrita a campos pequenos, certamente é de extrema utilidade no estudo do que ocorre no núcleo de galáxias, com relação às atividades estelar e não estelar, e à alimentação destas atividades via perturbações no potencial da galáxia, como barras hierárquicas e galáxias companheiras. Este intrincado tema oferece muitas perguntas sem resposta; é preciso observar as condições dinâmicas que levam aos fenômenos observados, e possivelmente estas respostas também estão relacionadas com a formação da componente esferoidal em galáxias. O telescópio SOAR surge naturalmente como uma opção extremamente atraente, portanto, no aspecto observacional destas perspectivas.

Indo mais além, questões fundamentais certamente podem ser esclarecidas de forma mais direta com a análise detalhada de galáxias mais longínquas, por exemplo a $z\sim1-2$. Mas para que os dados permitam uma análise estrutural detalhada nestas galáxias, que podem dar respostas a questões como a formação das primeiras barras, a formação de bojos e de discos, e a recorrência das barras, é preciso que ampliemos o limite tecnológico atual, para possibilitar o imageamento destes objetos em altíssimas resolução espacial e razão sinal/ruído, e em comprimentos de onda mais longos, como o infravermelho médio, ou térmico. Naturalmente, é preciso também ousar, e procurar desenvolver técnicas que nos permitam obter dados cinemáticos com relação a estes objetos.

Enfim, é gratificante concluir que, apesar dos passos dados nesta Tese em direção a algumas das respostas que procuramos, o caminho ainda é longo, bonito, e certamente cheio de surpresas.


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Dimitri Gadotti 2004-02-03