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2 Três categorias para os gradientes: negativos, nulos e positivos

O cenário monolítico de formação, que na década de 60 parecia explicar definitivamente a questão da formação de galáxias, é consistente com uma distribuição radial de populações estelares, onde as populações mais velhas, ou mais avermelhadas, se concentram na região central da galáxia, e as estrelas jovens e mais azuis nas regiões externas. Este comportamento da distribuição radial de populações estelares se traduz em um gradiente de cor negativo, i.e., cores mais vermelhas nas regiões centrais e mais azuis nas regiões periféricas. As figuras 2.6 e 2.9 indicam que a grande maioria das galáxias ana-lisadas neste estudo, têm, de fato, gradientes negativos. Entretanto, com a descoberta de populações estelares ricas em metais no bojo da Galáxia, a possibilidade de outros cenários de formação de galáxias tem sido explorada, conforme discutido na seção 1.1. Notamos em nossa amostra, que, além das galáxias com gradientes negativos, existem galáxias com gradientes nulos, e galáxias com gradientes positivos. De fato, podemos separar as galáxias em nossa amostra em três categorias distintas em relação ao comportamento do gradiente de cor. Definimos as galáxias com gradientes negativos como sendo aquelas que apresentam um gradiente $\leq -0.10$. As galáxias com gradientes nulos são aquelas em que o gradiente se encontra na faixa de valores $-0.10 < G < 0.10$. Por fim, as galáxias com gradientes positivos são aquelas em que $G \geq 0.10$. A Tabela 2.2 exibe a distribuição das galáxias em nossa amostra, segundo estas 3 categorias, para ambas as cores, e para uma quarta categoria, na qual a definição de galáxias com gradientes nulos é mais restrita, seguindo o critério $-0.05 < G < 0.05$. A coluna (1) desta tabela apresenta o número total de galáxias em cada categoria, enquanto que a coluna (2) dá a fração da amostra total que representa a categoria. Assim, temos aproximadamente 65% de galáxias com o típico gradiente negativo, 25% de galáxias com gradientes nulos e aproximadamente 10% com gradientes positivos, com pequenas variações em cada cor. Por sua vez, as colunas (3), (4) e (5) indicam, respectivamente, a fração de galáxias ordinárias, levemente barradas e barradas em cada categoria. A coluna (6) indica a fração total de barradas (SAB+SB) e, finalmente, a coluna (7) apresenta o número de galáxias com AGN (``Active Galactic Nuclei''), bem como a fração da categoria que estas galáxias representam. As galáxias com AGN foram identificadas através do catálogo de Véron-Cetty & Véron (1998). A importância de se fazer uma análise da fração de galáxias com AGN em cada categoria decorre da sugestão apresentada por alguns autores (e.g., Shlosman, Frank & Begelman 1989; Shlosman, Begelman & Frank 1990) de que as barras podem gerar mecanismos para abastecer núcleos ativos, através de processos semelhantes àqueles que podem levar à evolução secular.


Table: Distribuição das galáxias de nossa amostra em relação às várias categorias a serem avaliadas.
  Cor Total Amostra SA SAB SB SAB+SB AGN
    (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
G $\geq$ 0.1 (B-V) 18 8% 33% 22% 45% % 6(33%)
-0.1 $<$ G $<$ 0.1   55 23% 13% 45% 42% % 11(20%)
-0.05 $<$ G $<$ 0.05   25 10% 12% 40% 48% % 6(24%)
G $\leq$ -0.1   166 69% 36% 40% 24% % 18(11%)
G $\geq$ 0.1 (U-B) 27 13% 11% 41% 48% % 9(33%)
-0.1 $<$ G $<$ 0.1   47 24% 19% 38% 43% % 10(21%)
-0.05 $<$ G $<$ 0.05   22 11% 18% 32% 50% % 6(27%)
G $\leq$ -0.1   128 63% 41% 35% 24% % 13(10%)
(1): número de galáxias na categoria; (2): fração da amostra total na categoria; (3): fração de galáxias ordinárias; (4): fração de galáxias levemente barradas; (5): fração de galáxias barradas; (6): fração total de barradas; (7): galáxias com AGN.

A fração de galáxias barradas (SAB+SB) em toda a amostra é de aproximadamente 70%. Podemos ver na Tabela 2.2 que existe um excesso de galáxias barradas entre aquelas galáxias que apresentam gradientes nulos ou positivos. Para o índice de cor (B-V), a fração de galáxias barradas com o gradiente negativo é de 64%, enquanto que esse valor sobe para 87% entre as galáxias com o gradiente nulo. Em (U-B), apenas 59% das galáxias com o gradiente negativo são barradas, enquanto que 81% das galáxias com o gradiente nulo são barradas. Se considerarmos o critério mais restrito para a definição de galáxias com gradientes nulos ( $-0.05 < G < 0.05$), esta diferença é ligeiramente mais acentuada. Portanto, isto indica que as galáxias barradas estão sendo super-representadas na categoria de objetos com gradiente nulo ou positivo, indicando que a barra age definitivamente como um mecanismo de homogeneização do índice de cor das galáxias.

Outra característica interessante é que, em (U-B), a fração de galáxias barradas com o gradiente positivo é ainda maior. Isto se deve ao fato de que esta cor é mais sensível à população e à metalicidade. No entanto, este comportamento não aparece em (B-V). Além disso, a fração de galáxias com AGN aumenta progressivamente das galáxias com gradientes negativos para as com gradientes nulos e, por fim, para as com gradientes positivos. Isto pode indicar que, pelo menos em parte, o fenômeno AGN está correlacionado com a presença de barras.

Para, mais uma vez, fazer uma avaliação destas propriedades de maneira a minimizar os efeitos da extinção intrínseca, recalculamos todos os valores apresentados na Tabela 2.2 somente para galáxias vistas de face. Estas perfazem um número de 124 em (B-V) e 104 em (U-B). A Tabela 2.3 é equivalente à Tabela 2.2, mas apresenta os valores calculados para as galáxias vistas de face, separadamente.


Table: Distribuição das galáxias de nossa amostra (vistas de face) em relação às várias categorias a serem avaliadas.
  Cor Total Amostra SA SAB SB SAB+SB AGN
    (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
G $\geq$ 0.1 (B-V) 14 11% 28% 29% 43% % 5(36%)
-0.1 $<$ G $<$ 0.1   32 26% 9% 53% 38% % 4(12%)
-0.05 $<$ G $<$ 0.05   17 14% 6% 47% 47% % 4(24%)
G $\leq$ -0.1   78 63% 25% 47% 28% % 8(10%)
G $\geq$ 0.1 (U-B) 19 18% 10% 37% 53% % 7(37%)
-0.1 $<$ G $<$ 0.1   30 29% 17% 53% 30% % 2(7%)
-0.05 $<$ G $<$ 0.05   16 15% 12% 38% 50% % 5(31%)
G $\leq$ -0.1   55 53% 27% 42% 31% % 4(7%)
(1): número de galáxias na categoria; (2): fração da amostra total na categoria; (3): fração de galáxias ordinárias; (4): fração de galáxias levemente barradas; (5): fração de galáxias barradas; (6): fração total de barradas; (7): galáxias com AGN.

A fração de galáxias barradas na sub-amostra de galáxias vistas de face é de 79%. Este aumento pode estar vinculado ao fato de que é mais fácil identificar a barra em uma galáxia quando esta é vista de face do que quando vista de perfil. Através da Tabela 2.3, verifica-se que as propriedades da amostra total, apresentadas na Tabela 2.2 e nos parágrafos acima, permanecem aproximadamente iguais na sub-amostra de galáxias vistas de face. A única diferença é a de que, nessa sub-amostra, o excesso de galáxias barradas entre as galáxias com gradientes nulos é ligeiramente menos significativo, o que ocorre em ambas as cores.


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Dimitri Gadotti 2003-10-06