Como vimos, o cenário vigente para a formação de barras em galáxias, que é fundamentado na instabilidade de barra em discos estelares (ver Seção 1.2), tem problemas graves ao tentar explicar a existência de galáxias barradas com bojos proeminentes, i.e., de tipos morfológicos recentes, por requerer um grau de suavização suspeitamente elevado. Por outro lado, veremos no próximo capítulo que também existem galáxias barradas nas quais a componente disco é praticamente inexistente. Em virtude destas observações, sugerimos um novo cenário para a formação de barras em galáxias (ver também Gadotti & de Souza 2003a, b).
Este cenário não exige a presença de um disco de estrelas. De fato, é capaz de formar uma estrutura semelhante a uma barra em um esferóide. Tudo o que é necessário, além do próprio esferóide, é que haja um halo de matéria escura excêntrico na galáxia. Portanto, a galáxia é constituída pelo esferóide e pelo halo excêntrico. Essencialmente, a barra se forma, através deste cenário, via o acomodamento das estrelas do esferóide no potencial do halo escuro.
Para certificar que o mecanismo proposto funciona, realizamos uma série de experimentos numéricos, nos quais o
esferóide é uma esfera de Plummer com 10 partículas, massa igual a
M
,
Kpc, e tem um raio de 17 Kpc. O halo foi construído de forma similar aos halos da seção anterior, e assumiu
valores para
de 0.9 a
M
;
variou de 6 a 10 Kpc nos nossos experimentos;
e as razões axiais
e
variaram de 1 a 4, com configurações prolatas e triaxiais. Utilizamos
pc e a
variação da energia total e da posição do centro de massa do sistema foi tipicamente menor do que 0.1%. Outros
valores para as condições iniciais e os parâmetros que caracterizam os experimentos são similares aos expostos
na seção anterior e na seção 3.3.3.
Verificamos que: (i) o esferóide é estável quando as razões axiais são baixas, permanecendo aproximadamente
esférico para qualquer valor típico de e
; (ii) distorções ovais, barras fracas e barras fortes são
formadas quando a razão axial
é elevada de
a
após menos de 1 Gano
(Fig. 3.14); e (iii) estes resultados não
dependem de a configuração do halo ser triaxial ou prolata. Note que as barras assim formadas são bastante similares
às barras observadas em lenticulares, como NGC 4477, NGC 4608 e NGC 5701 (ver Apêndice A), por exemplo, que
são as três lenticulares barradas sem disco, cuja descoberta será descrita no próximo capítulo.
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Nosso novo mecanismo para a formação de barras está, portanto, fundamentado na possibilidade da existência de
halos que sejam suficientemente excêntricos (). De fato, os resultados das simulações cosmológicas de Frenk
(1988) indicam que os halos podem assumir valores tão altos quanto 3 para a razão axial, embora estes halos
sejam menos comuns. Nestas simulações, os halos formados são geralmente triaxiais ou prolatos. Simulações
mais recentes (Warren et al. 1992) mostram que as razões axiais dos halos têm uma distribuição bastante ampla
atingindo valores tão altos quanto 2 a 3 (ver também Bullock 2002). No que diz respeito às observações,
resultados recentes indicam valores para
desde 1 a 3 (Sackett & Sparke 1990; Sacket 1999; Buote et al. 2002).
Através de simulações -corpos que incluem um halo vivo (i.e., não apenas um potencial rígido, mas composto
por partículas), Athanassoula & Misiriotis (2002) e Athanassoula (2002; ver também Athanassoula 2003), mostram
que o halo pode reforçar uma barra formada. Isto se dá via o transporte de momento angular da barra para o halo.
Durante sua evolução, a barra diminui sua velocidade
e cresce. Isto ocorre porque partículas
do disco são transportadas para a barra e, assim, o disco tende a ficar cada vez mais tênue. Em um caso extremo,
este cenário pode levar à completa dissolução do disco, e pode assim ser um resposta alternativa para a existência
das barradas sem disco. Na Seção 4.6, vamos comparar previsões quantitativas advindas deste cenário, bem como
do nosso mecanismo para a formação de barras sem disco, com as observações de galáxias barradas que realizamos.