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A princípio, deveríamos esperar que os gradientes de cor em galáxias, determinados
através de fotometria fotoelétrica de abertura (como são aqueles obtidos no Capítulo 2,
através dos dados do LdV83,85) tivessem valores menos pronunciados do que aqueles
calculados através de fotometria em CCD.
Imaginemos o caso de uma galáxia com o típico gradiente
negativo, ou seja, com um índice de cor central maior (mais avermelhado) do que o seu índice de cor
periférico, mais azulado. Em se tratando de dados obtidos através de fotometria de abertura,
a maior abertura pela qual se realiza a fotometria da galáxia não contém
somente a região periférica desta (mais azulada), mas também contém a região central, mais
avermelhada. De fato, a maior abertura utilizada permite, em geral, que a luz de toda a galáxia a-tinja o
detector. Portanto, em fotometria de abertura, o índice de cor atribuído à região periférica da
galáxia em questão não é tão distinto do índice da região central. No caso do imageamento
em CCD, o índice de cor medido na região periférica não sofre essa perturbação vinda da luz emitida
pela região central da galáxia. Dessa forma, os gradientes de cor calculados no imageamento em CCD
são, a princípio, mais acentuados do que aqueles obtidos através de dados em fotometria de abertura.
Essa conclusão permanece inalterada para o caso do mais incomum gradiente positivo. No entanto,
para galáxias com um índice de cor constante desde a região central até a região periférica,
o gradiente de cor obtido será nulo tanto no caso da fotometria de abertura, quanto no imageamento
em CCD.
Entretanto, os resultados apresentados na Tabela 3.3 e na Figura 3.4(a) mostram que os gradientes de cor
em galáxias, calculados através da fotometria em CCD, são essencialmente equivalentes àqueles
determinados por fotometria fotoelétrica de abertura.
Portanto, o efeito da perturbação do índice de cor periférico da galáxia, em fotometria de abertura,
parece poder ser desprezado.
Esse resultado é coerente com aquele apresentado
nos dois diagramas inferiores da Figura 2.10, nos quais se compara os gradientes por nós determinados
com aqueles obtidos em PH98. Como, nesse último trabalho, também foram utilizados dados obtidos no
imageamento em CCD, esses diagramas são, ainda que de maneira mais indireta, também uma comparação
entre os gradientes obtidos por fotometria de abertura e aqueles determinados no imageamento em CCD.
Além disso, não se nota, na Figura 3.4(a), qualquer diferença sistemática entre os gradientes
obtidos na Capítulo 2 (i.e., por fotometria de abertura) e os gradientes obtidos no presente capítulo
(por imageamento em CCD).
Esses resultados indicam que o estudo apresentado aqui permaneceria essencialmente o mesmo, fossem os
gradientes de cor determinados através do imageamento em CCD no lugar dos dados extraídos do LdV83,85.
Vejamos agora os resultados referentes à decomposição bojo/disco. A Figura 3.4(b) mostra que o
índice de Sérsic para o bojo, calculado pelas imagens do DSS, é sempre menor do que aquele calculado
pelas imagens em CCD. Em particular, as imagens do DSS sugerem índices sempre menores do que 1, o que
corresponde a um perfil inicialmente relativamente plano, com uma queda posterior. Por outro lado, as
imagens em CCD fornecem índices que variam de 1 (perfil puramente exponencial) a 4 (lei de de Vaucouleurs).
Esse resultado é esperado, já que sabemos que as imagens do DSS, por serem obtidas em exposições
profundas, sofrem de saturação na região central (mais brilhante) das galáxias. De fato, os perfis
determinados para os bojos na decomposição bojo/disco nas imagens do DSS são bastante distintos nas
imagens em CCD. Portanto, as imagens do DSS não nos fornecem valores confiáveis para o índice de
Sérsic do bojo. Evidentemente, esse efeito perturba também os outros parâmetros característicos do
bojo, bem como os do disco.
A Figura 3.4(c) mostra que existe uma correlação relativamente boa entre a razão bojo/disco (luminosidade)
determinada em imagens DSS e aquela determinada em imagens CCD. No entanto, há uma tendência de os bojos nas
imagens DSS serem mais luminosos. Esse efeito está relacionado ao problema mencionado no parágrafo acima,
referente ao índice de Sérsic, e também pode ser avaliado em conjunto com as Figuras 3.4(d)
e 3.5(a) e (b).
O fato de os bojos nas imagens DSS possuírem índices de Sérsic menores do que 1, significa que seus perfis
não possuem o característico aumento abrupto nas regiões centrais, como no caso de um perfil mais próximo ao
de de Vaucouleurs. Assim, os bojos nas imagens DSS têm uma menor concentração central de luz, o que é o que
de fato mostra a Figura 3.5(a). Assim sendo, é de se esperar que os raios efetivos dos bojos sejam maiores nas
imagens DSS, como se pode verificar na Figura 3.5(b). Por fim, a razão bojo/disco (diâmetro) determinada em
imagens do DSS também deve ser afetada, no sentido de os bojos serem maiores nas imagens do DSS. É o que mostra
a Figura 3.4(d).
Entretanto, apesar de os parâmetros característicos de bojo e disco serem afetados substancialmente pela
saturação central das imagens do DSS, as Figuras 3.4(c) e (d) mostram que existe uma correlação relativamente
boa entre as razões bojo/disco determinadas em imagens DSS e aquelas determinadas em CCD. De fato, os bojos
mais luminosos, ou maiores, nas imagens do DSS, também o são nas imagens em CCD. O mesmo ocorre com o
brilho supeficial efetivo do bojo (Figura 3.5(a)) e o raio efetivo do bojo (Figura 3.5(b)). Portanto, embora
os efeitos da saturação central nas imagens do DSS não possam ser deprezados, os resultados da decomposição
bojo/disco em imagens do DSS são coerentes com aqueles em que o imageamento CCD é utilizado.
O efeito da sub-estimativa para o índice de Sérsic dos bojos nas imagens do DSS nos parâmetros característicos
dos discos pode ser avaliado através das Figuras 3.5(c) e (d). Observa-se que o brilho superficial central
dos discos, bem como seus raios característicos, são menores, i.e., os discos são menos luminosos nas
imagens DSS, em concordância com as Figuras 3.4(c) e (d) e com o discutido nos parágrafos acima. Por
outro lado, o espalhamento dos pontos nos parâmetros característicos dos discos é maior do que nos dos
bojos (Figuras 3.5(a) e (b)) e, com o pequeno número de pontos (seis), torna-se difícil afirmar se existe
ou não uma correlação entre os parâmetros determinados com as imagens do DSS e aqueles determinados
através do imageamento CCD.
A conclusão geral que extraímos do estudo comparativo realizado nesta seção pode ser resumida no
seguinte. Os resultados e conclusões apresentados no estudo dos gradientes de cor (Capítulo 2) permaneceriam
essencialmente os mesmos se, ao invés de utilizarmos dados obtidos através de fotometria de abertura,
tivéssemos utilizado imagens em CCD para a determinação dos gradientes de cor das 257 galáxias de
nossa amostra. Mais ainda, os resultados e conclusões (de caráter qualitativo)
obtidos na decomposição bojo/disco das 39
galáxias de nossa sub-amostra (Capítulo 3) não sofreriam mudanças fundamentais, fossem as imagens que
utilizamos obtidas com CCD's no lugar de placas fotográficas digitalizadas. Enfim, os resultados e conclusões
apresentados nesta Dissertação permanecem essencialmente os mesmos se os dados aqui utilizados forem
substituídos por dados obtidos
através da mais moderna e acurada técnica de imageamento em CCD.
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Dimitri Gadotti
2003-10-06