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2 Gradientes de Cor

Neste capítulo, apresentamos um estudo estatístico do comportamento dos índices de cor ao longo da direção radial de galáxias espirais tardias (Sb's, Sbc's e Sc's). O objetivo principal é o de verificar, através da informação da distribuição de cor, e portanto, em princípio, da população estelar, como os gradientes de cor se comportam nas galáxias da amostra. Em particular, estamos interessados em verificar a presença de gradientes de cor nulos, ou seja, índices de cor semelhantes em bojos e discos, que indicariam, portanto, a homogeneização das populações estelares, como previsto por processos de evolução secular em galáxias barradas (ver seção 1.1.3). Para este fim, selecionamos uma amostra de 257 galáxias dos tipos Sb, Sbc e Sc, ordinárias e barradas, com medidas dos índices de cor (B-V) e (U-B) ao longo de cada uma delas, publicadas em ``A General Catalogue of Photoeletric Magnitudes and Colors of Galaxies in the U, B, V System'' (Longo & A. de Vaucouleurs 1983,1985 - doravante LdV83,85).

No decorrer deste capítulo, vamos mostrar que, na maioria das galáxias, os índices de cor variam suavemente da região central para a região periférica, caracterizando, assim, um gradiente de cor. Veremos também que a maior parte das galáxias em nossa amostra apresenta um acentuado gradiente de cor negativo, i.e., têm índices mais vermelhos nas regiões centrais (bojo), e índices mais azuis nas regiões periféricas (disco).

A diferença entre os índices de cor dos bojos e discos indica que a população estelar dominante varia ao longo das galáxias. Este fato está em acordo com a previsão do cenário monolítico de formação de galáxias espirais (ver seção 1.1.1), que identifica essa diferença nas populações estelares de bojos e discos como conseqüência de que a formação destas componentes se dá de forma distinta e separada.

Por outro lado, uma das conseqüências naturais do cenário de evolução secular em galáxias barradas (ver seção 1.1.3) é a homogeneização das populações estelares ao longo do bojo e disco, já que os processos de evolução promovem uma conexão entre essas duas componentes. Desde que haja uma quantidade suficiente de gás no disco e desde que a barra esteja presente durante um intervalo de tempo suficiente para que esse gás seja transportado para as regiões centrais da galáxia, dando origem aí a surtos de formação estelar, as populações do bojo e disco deverão ser mais semelhantes entre si do que aquelas em uma galáxia que não sofreu tais processos. Essa homogeneização é ainda mais acentuada na medida em que a barra induz o transporte de estrelas do disco para o bojo através do esquentamento vertical do disco. Evidentemente, a homogeneização das populações estelares deve se refletir de modo análogo no comportamento dos índices de cor ao longo da galáxia. Assim sendo, uma galáxia que sofreu tais processos deve apresentar índices de cor semelhantes no bojo e no disco, ou seja, deve apresentar um gradiente de cor aproximadamente nulo ou menos acentuado. De fato, cerca de 25% das galáxias em nossa amostra apresentam este comportamento. Veremos que há, entre essas galáxias, um excesso estatisticamente significativo de galáxias barradas. Também veremos que os índices de cor destas galáxias são similares aos índices dos discos das galáxias com o típico gradiente negativo. Estes resultados podem estar indicando que, pelo menos em algumas galáxias, a barra atua unificando as populações estelares de bojos e discos, em acordo com o cenário de evolução secular.

Na próxima seção, introduzimos os conceitos básicos que fundamentam este estudo. As seções 2.2 e 2.3 descrevem, respectivamente, a seleção da amostra estudada e a determinação dos gradientes de cor, bem como dos índices de cor característicos do bojo e do disco de cada galáxia. Os resultados são apresentados em 2.4, e analisados e discutidos na seção 2.5, que também traz um resumo de nossas conclusões.



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Dimitri Gadotti 2003-10-06